Nunca tinha participado de uma audiência pública, achava que isto era somente chatice de políticos. Fui convidado a assistir uma. Como estamos no Brasil, ela começou uma hora após o horário previsto. Estava a ponto de ir embora, mas resolvi ficar. Valeu a pena. Foi uma audiência para a criação de um núcleo da APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados) aqui na minha cidade.

Estavam presentes várias autoridades e pessoas de vários segmentos, principalmente a Pastoral Carcerária, e alguns abelhudos como eu. Muitos perguntarão… Proteção e assistência para condenados? Porque não proteger o cidadão honesto que trabalha? E na condição de seres humanos, todo cidadão tem o direito de fazer estes questionamentos, principalmente se não tiverem nenhum parente, ou mesmo um pai ou um filho encarcerados por algum motivo. É preciso sensibilizar-se com a situação sub-humana que coloca o ser humano em igualdade de condição ou até pior que o mais peçonhento dos animais. Foi gratificante ver a preocupação de juizes e promotores e outras autoridades com esta condição ao relatar a realidade de nosso sistema carcerário. Aqui na cidade de Betim – MG, por exemplo. Nada diferente do que já sabemos. Tudo além do que imaginamos.

Aqui na nossa cidade a população nunca foi informada que temos o mais perverso e cruel sistema carcerário do estado, onde o condenado não tem sequer um vaso sanitário decente, e é obrigado fazer suas necessidades fisiológicas na mão e jogar pela grade da janela. O poder político da nossa cidade, durante oito anos transformou a vida dos prisioneiros em dois infernos. Um quando foi preso. O outro quando é chamado a recuperar-se, sendo tratado pior que um animal. O que espanta é que nestes anos todos, vereadores da “oposição” se calaram, se acovardaram, sem coragem para mostrar isto para o povo. Se com a prerrogativa de poder denunciar se omitiram, o que esperar deles como políticos e como cidadãos? Mas isto são coisas da política.

O importante foi ouvir a defesa entusiasmada que o Desembargador do Tribunal de Justiça do estado, excelentíssimo Dr. Joaquim Alves, fez das APACs. Não se trata de um movimento para jogar os presos na rua, mas, de dar a ele a chance de voltar a ser gente, poder andar em qualquer lugar como todos nós. Ninguém está falando aqui, em libertar perigosos traficantes da noite para o dia. Ninguém vai poder libertá-los da sua própria consciência, mas, dar ao ser humano prisioneiro, a chance de repensar sua atitude diante de si mesmo e da sociedade.

 

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9º CONGRESSO DAS APACs / 9º Congress of APACs