Eu vi um povo nas ruas. Dizem alguns que era um protesto de estudantes. Não foi o que vi. Lá estavam, isto sim, letrados e incultos, fracos e poderosos, ricos e miseráveis, adultos e crianças andando lado a lado, compartilhando juntos o sonho de um país mais lógico.
Estas pessoas não eram, e nunca foram, baderneiros. Confundi-los com alguns poucos marginais infiltrados traduz, no mínimo, falta de lucidez – ou talvez de honestidade.
Eu ouvi um povo nas ruas. Dizem alguns que buscavam apenas discutir o preço das passagens de ônibus. Não foi o que ouvi. A voz das ruas não tratava de pauta material alguma – seria insensibilidade ou má-fé achar que falava de algo tão simples.
O clamor, e eis aí nosso grande desafio, não é por matéria, é por espírito – por espírito público. E assim porque só a falta de grandeza e comprometimento podem explicar o Brasil injusto que nossa geração entregará à seguinte.
Que não se pense, sequer por um segundo, estar a voz de todo um povo a se levantar contra um governo ou um partido político, contra uma pessoa ou instituição. Jamais. Isto seria amesquinhá-la.
Quem está lá nas ruas chama, isto sim, a todos nós, detentores do poder estatal. É este o nome cuja presença se pede: o nosso.
Diante deste chamado, que não nos perguntemos sobre o que temos a fazer. Isto seria cínico. Cada um de nós, autoridades deste país, sabe precisamente o que há por ser feito e qual a nossa parcela de culpa por estar o povo nas ruas a gemer.
Neste momento, que não nos escondamos atrás de alguns poucos baderneiros – isto seria profundamente indigno para com um povo que merece, antes de tudo, o nosso respeito.
Há poucos dias este Tribunal de Justiça recebeu em suas portas a população – e foi o único do país a fazê-lo. Recebeu-a com a humildade de quem conhece e reconhece seus erros e deficiências, mas com a dignidade de quem claramente tem buscado corrigi-los.
Eu estava lá, no meio da rua, cercado não por manifestantes – mas pela minha gente, pelo meu povo. Pediam simplesmente a dignidade de serem ouvidos e a ajuda de uma instituição a um ideal que nos é comum. Só isso. Nada mais do que isso.
Apesar dos apelos da população, um pequeno grupo – trinta, no máximo – buscou o vandalismo, danificando vidraças deste prédio. Em respeito às cem mil pessoas que aqui estavam a polícia apenas agiu, de forma serena e cirúrgica, quando aqueles poucos criminosos foram devidamente identificados e separados.
Hoje nosso Tribunal de Justiça apresenta, sim, cicatrizes. Mas, em verdade, nunca esteve tão belo diante de toda a nação brasileira.

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