Entre os meses de novembro e janeiro, a FBAC recebeu os pesquisadores alemães Pedro Holzhey e Angelika Lang. A visita teve como finalidade, pesquisar vivências e relatar experiências no livro sobre o Método APAC, que será lançado pelos autores no próximo ano para a sociedade alemã.

Pedro Holzhey, Oficial do Estado Maior aposentado e Angelika Lang, criminóloga e assistente social, fazem parte da fundação alemã SET FREE, associação sem fins lucrativos, que visa construir pontes entre o sistema prisional e a sociedade, além de integrar os presos para evitar a reincidência e trazer medidas ressocializadoras e reparadoras no país.

 

 

A imersão do Método APAC é uma modalidade de conhecimento proporcionada pela logística e estrutura do Centro Internacional de Estudos do Método APAC (CIEMA). Durante os meses que estiveram no Brasil, os visitantes coletaram diversas informações por meio de material cedido pelo CIEMA e também por mais de 20 entrevistas pessoais, com recuperandos, presidentes das APACs e colaboradores da FBAC.

As APACs de Betim/MG, Itaúna/MG e Arcos/MG receberam a visita dos pesquisadores; além de participarem das jornadas de Betim e Arcos, os visitantes passaram alguns dias entrevistando os recuperandos do regime fechado e membros da diretoria.

Em entrevista a nossa reportagem, Pedro nos explica, que o processo de implementação do sistema apaqueano na Alemanha, caminha em passos lentos: “ Existe um grupo pequeno de pessoas engajadas, a maioria composta por ex-presidiários que dão o testemunho nas prisões da Alemanha, para que os presos possam manter acesa a chama da esperança e possam voltar ao convívio na sociedade. Além disso, existe uma conexão entre as pessoas que estão presas e aqueles que já saíram da prisão, esta linguagem faz com que os presos acreditem na mudança de realidade vivida. Por ser um grupo pequeno, estamos focando em criar publicações e livros para que o Método seja amplamente divulgado no país.”

Angelika Lang nos conta que possui uma experiência de mais de 30 anos trabalhando com presos e no começo do seu trabalho, percebeu que a mudança não deveria ser somente nas pessoas privadas de liberdade, mas sim no sistema, menciona ainda que a confiança dada aos recuperandos nas APACs, é algo surpreendente e completa dizendo sobre a importância de que a Alemanha conheça a metodologia apaqueana. Para Angelika, os recuperandos e recuperandas realmente se identificam com a APAC, já no sistema comum ela não vê este tipo de identificação. 

Na percepção de Angelika, de todas as experiências, a mais marcante foi se conectar com estas histórias únicas, que se conectam com sua essência, vendo que todos compartilham suas histórias e lutam pela mesma causa. 

Já para Pedro, algo inesquecível, foi saber que em um local tão distante, existem pessoas que fazem o oposto do que o sistema comum impõe, um método revolucionário. Pedro finaliza contando que ao visitar o presídio comum no Brasil, teve a experiência de conhecer o sofrimento de homens e mulheres privados de liberdade, que são tratados sem nenhuma humanidade: “ Senti o total desprezo e a forma ruim como essas pessoas são tratadas, numa cela que cabiam 4 mulheres, vi 16 mulheres presas, comendo no chão, como se fosse cães, se fosse por essas 16 mulheres, passaria a minha vida inteira lutando somente para mudar esta realidade.

Para a FBAC é fundamental essa troca de experiências, sendo um grande passo em direção a um futuro onde as fronteiras não são barreiras para a busca da justiça restaurativa, deixando um legado que transcende as fronteiras geográficas, fortalecendo a visão de um sistema prisional mais justo, compassivo e eficaz em todo o mundo.

O que é o CIEMA?

Em 11 de setembro de 2019, foi inaugurado o Centro Internacional de Estudos do Método APAC (CIEMA), uma extensão da FBAC, que surgiu com diversos objetivos, destacando-se a capacitação, o acompanhamento e o assessoramento de colaboradores das APACs, estudantes, pesquisadores e a sociedade em geral que busca aprender ou aprofundar seus conhecimentos acerca da metodologia apaqueana, maximizando as possibilidades de divulgação, fortalecimento e expansão das Associações de Proteção e Assistência aos Condenados (APACs) para todo o mundo.

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