O ano é 2015, e os dados de uma pesquisa publicada pelo TJMG assustaram a FBAC e APACs, pois apontavam uma taxa de reincidência de cerca de 32% dos egressos das APACs.  Para se ter uma ideia, a taxa de reincidência atual é de cerca 15%.

Em busca de respostas para uma taxa de reincidência tão alta, a FBAC começou a reavaliar todos os trabalhos realizados com os recuperando a fim de descobrir o que poderia ser feito para reduzir esse número.

“Diante desses números, estudamos as causas desta reincidência e descobrimos 7 pontos de ruptura na aplicação da metodologia pelas APACs.” Relata Marcelo Moutinho, coordenador de metodologia do programa.

Foi assim que nasceu o programa Caminhos do Cuidado em Busca da Sobriedade (CCBS), que foi desenvolvido pela FBAC e que tem como objetivo trabalhar a superação da dependência química/alcoólica com os recuperandos (as) das APACs, a fim de que o egresso deles seja o mais exitoso possível.

“O programa é composto por nove seções que buscam responder através de vídeos, estudos bíblicos, atividades autodirigidas e dinâmicas a três perguntas: o que é sobriedade? por que viver sóbrio? e como alcançar a sobriedade?” Destaca Marcelo.

O processo de elaboração do programa durou cerca de 5 anos, entre levantamento dos porquês e desenvolvimento da metodologia; durante o desenvolvimento do programa foram realizadas internações voluntárias de membros da FBAC em clínicas de recuperação para dependentes químicos, estudo bibliográficos, teste de controle de qualidade e a execução de 2 turmas piloto na APAC masculina e feminina de Itaúna/MG.

Flávio Pereira Vilela tem 35 anos e cumpre uma pena de 19 anos na APAC masculina de Itaúna/MG. Ele participou da primeira turma do Caminhos do Cuidado. Flávio começou a usar drogas aos 12 anos, há 4 anos está longe das drogas, ele encontrou no programa uma forma de fortalecer seu processo de sobriedade:

“Esse curso me fez tirar as escamas dos meus olhos, me fez entender, ter outra visão sobre minha vida, sobre meus sonhos. Eu percebi que ser sóbrio não é só apenas deixar de fazer o uso de drogas ou álcool, mas reconhecer os defeitos do seu caráter e viver um dia após o outro com a intenção de que cada dia seja melhor; tentar reparar os danos que cometemos a nossa família e das pessoas que estão ao nosso redor.”

Paula das Graças de Jesus é recuperanda da APAC feminina de Itaúna/MG. Ela também fez parte do projeto piloto de aplicação do programa. Para ela o Caminhos do Cuidado foi um tempo de reflexão:

Eu não uso drogas há 7 anos e esse programa veio me ajudar a entender o que é sobriedade e desejar a não voltar mais para as drogas. Ele faz a gente refletir sobre nosso passado, coisas ruins e coisas boas. Foi uma experiência sensacional.”

Patricia e Fábio puderam compartilhar suas experiências sobre o programa durante a cerimônia de lançamento do Caminhos do Cuidado, realizado nos dias 22 e 23 de novembro na APAC masculina de Santa Luzia/MG. O evento reuniu funcionários, voluntários e recuperandos (as) de APACs de várias partes de Minas e do Brasil e foi uma oportunidade de apresentar os métodos aos participantes e torná-los multiplicadores do programa.

Rodrigo Francisco Musa é Gerente-geral da APAC de Barracão/PR, ele viajou mais de 1200 km para participar do curso. Para ele o Caminhos do Cuidado veio em boa hora:

“A gente sabe que a dependência química é a maior dificuldade para as APACs e a gente achava que tínhamos que ter um trabalho mais voltado para os dependentes químicos, então a gente chega aqui e vê esse curso, com 2 dias de prática, com o Marcelo mostrando passo-a-passo como o programa deve ser aplicado, isso é algo sensacional.”

Francisco Ibiapino é inspetor de segurança na APAC de Pedreiras/MA, ele sai do encontro ainda mais animado com a causa apaqueana.

“O que ficou em mim, a partir desse curso, é um desejo de doação ainda maior para minha APAC, o desejo de me doar ainda mais para o próximo, de fazer o máximo possível para que esse programa possa ser transmitido da melhor forma possível para os recuperandos.”

Segundo Marcelo, a expectativa é que o programa reduza em até 1,7% a taxa de reincidência entre os recuperandos (as) das APACs.

Ainda na cerimônia de lançamento, foi acordado entre os participantes uma meta de 2.000 recuperandos (as) a participarem do CCBS até junho de 2022.

Confira o link com as fotos do evento:

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