Durante cinco semanas a APAC de São João del-Rei realizou a mostra “A Arte Liberta”, projeto expográfico idealizado pela assessora de comunicação, Rafaella Vieira e composto por trabalhos dos recuperandos da unidade. A exposição foi realizada em parceria com o Centro Cultural da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), que todo ano abre editais de propostas artística para o espaço. A proposta da APAC foi encaminhada no segundo semestre de 2016 e aceita no primeiro semestre de 2017.

Para Aline Braga, responsável pelas propostas artísticas, a APAC concorreu de forma igualitária com os outros projetos, porém a sensibilidade e importância do tema resultaram na aprovação da proposta. Esta foi a primeira vez que a APAC de São João del-Rei promoveu uma mostra fora da Instituição.

Para Rafaella, a importância da exposição está no diálogo mais direto com a sociedade e na valorização dos trabalhos dos recuperandos. Pontos também pontuados pelo presidente da APAC de São João del-Rei, Antônio Carlos de Jesus Fuzatto.

A exposição foi composta por três setores, sendo “A Estrela”, “Labor”, “Garimpo” e pela setor “Cora Coralina”. A primeira ala continha produções fotográficas realizadas por recuperandos de Itaúna, São João del-Rei e das recuperandas de Rio Piracicaba. As
fotografias, tiradas pelos internos, foram produzidas durante a atuação do Projeto VOZ, integrado pela jornalista Natália Martino e pelo fotógrago Leo Drummond.

O segundo setor foi composto pelos trabalhos realizados por recuperandos do regime fechado da unidade são-joanense durante a laborterapia. Entre pipas, cachecóis, bolsas, chaveiros e outros artigos a alegria, a cor e a reflexão tomou conta no Centro Cultural.

O “Garimpo” remeteu-se aos móveis e artigos de ferro feitos pelos internos. O trabalho está presente nas oficinas externas e são marcas registradas da APAC são-joanense. 

Por fim, o setor “Cora Coralina” que foi composto por trabalhos realizados entre os recuperandos e os professores da E.E. Detetive Marco Antônio de Souza sobre a poetisa brasileira. O setor coloriu a galeria escada do Centro Cultural com muitos desenhos. 

Seguindo a metodologia apaqueana, a exposição apoiou-se diretamente no primeiro elemento: Participação da Comunidade. Sendo em uma área central, a exposição conseguiu atingir pessoas que nunca tinham ouvido falar de APAC ou que tinham uma opinião contrária ao método, sendo por falta de conhecimento. Na entrada, a frase “As coisas só têm significado quando nós as conhecemos”, do nosso fundador e mestre Mário Ottoboni, causou curiosidade nas pessoas, curiosidade esta que acarretou nas 608 visitações durante a exibição.

O cárcere humanizado também foi assunto da exposição “A Arte Liberta”

Ainda durante a exposição, a APAC de São João del-Rei promoveu cinco mesas-redondas com a temática “A APAC como alternativa do cárcere brasileiro”. Dentro do assunto foram abordadas diversas vertentes que fazem parte do sistema comum e do sistema humanizado.

No dia 26 de maio, a primeira mesa-redonda ficou por conta do voluntário e parceiro das APAC, Flávio Tófani, que possui o projeto Tio Flávio Cultural. Tio Flávio falou sobre a importância do educador social e do trabalho voluntário para a humanização dos presídios, tocando em pontos como conscientização, formação e responsabilização.

A segunda mesa-redonda abordou a temática da metodologia apaqueana, passando pela sua criação, em 1972 em São José dos Campos, até sua difusão no Brasil e no exterior. 

Para contextualizar a mostra foi importante abordar como o cárcere humanizado surgiu no Brasil, sendo necessário expor que essa proposta é inédita. Além de abordar toda sua origem, a mesa-redonda falou sobre os nomes que fazem parte dessa história, assim como as características da Instituição. Além do presidente da APAC de São João del-Rei, Antônio Carlos de Jesus Fuzatto, a mesa foi composta por recuperandos e recuperandas da unidade são-joanense, os quais abordaram a vivência no sistema carcerário convencional e do sistema humanizado.

A terceira mesa-redonda, que aconteceu no dia 10 de maio, versou sobre a mulher no cárcere. Tal mesa-redonda apresentou a proposta de inserir e aumentar os debates sobre as mulheres em condições de cárcere no Brasil, situação esta que perpassa direitos básicos de humanização.

A problematização passou pelo aumento da população carcerária feminina, onde o Brasil ocupa a quarta maior população carcerária no mundo e esse número vem crescendo mensalmente, com 10,7% de novas detentas (Fonte: Carta Capital). Para falar sobre a temática recebemos três convidados, a jornalista Natália Martino, o fotógrafo Leo Drumond e a advogada Nana Oliveira. Todos os convidados são de Belo Horizonte e militam nas causas carcerárias. Natália e Leo, além de serem responsáveis pelo Projeto VOZ que realiza a produção da “A Estrela” em unidades prisionais, são os autores do livro “Mães do Cárcere”, obra que acompanhou o dia-a-dia de mulheres presas gestantes. Os autores explicaram todo o processo de produção do livro, assim como a realidade vista por eles de como é a situação da mulher presa. Recuperandas da unidade feminina participaram do momento.

A quarta mesa-redonda falou sobre a educação prisional, mais especificamente como é a vida acadêmica dos internos das APACs, estes que possuem acesso ao ensino básico até o ensino superior. Há uma estrutura educacional completa dentro da APAC São João del-Rei, tendo como base a Escola Estadual Detetive Marco Antônio de Souza, que atua também no presídio regional. A escola oferece o ensino fundamental e médio, sendo dado no formato EJA – Educação para Jovens e Adultos. Além da escola, atuam dentro da APAC projetos da UFSJ e o Centro Universitário Presidente Tancredo Neves (UNIPTAN). A mesa-redonda versou sobre os projetos que existem entre as Instituições, como o projeto “Ressocialização dos privados por meio do estudo via educação à distância” (PREAD) do Núcleo de Educação a Distância (NEAD) da UFSJ, coordenado pelo professor Pablo Martins, que resultou na aprovação de nove alunos no curso de Filosofia da UFSJ através do SISU, estes que participaram da mesa-redonda. Além disso, a mesa falou sobre a importância das parcerias
educacionais para o apoio na recuperação de homens e mulheres enclausurados. O debate permeou a triste realidade prisional, onde menos de 13% da população carcerária tem acesso à educação (Fonte: Justificando). Para explanar sobre o tema recebemos a pedagoga da unidade da APAC de São João del-Rei, Thais Teixeira, o pró-reitor de pesquisa e extensão do UNIPITAN, Heberth Paulo de Souza, representando a UFSJ, o professor Pablo Martins, a diretora da E.E. Detetive Marco Antônio de Souza, Maria Aparecida Mende e outros convidados.

Por fim, a última mesa-redonda falou sobre a saúde prisional, perpassando as doenças e os cuidados existentes dentro da unidade apaqueana. A assunto é extremamente relevante, haja vista o crescimento de doenças infecciosas dentro das unidades prisionais, como tuberculose e DSTs. É importante ressaltar que a acesso à saúde é um direito previsto pela Lei nº 8080 de 1990, que institui o Sistema Único de Saúde (SUS), onde determina o direito à saúde independentemente do estado o qual a pessoa se encontro, ou seja, presos e presas devem ter acesso à saúde e condições básicas de saneamento. Porém, o cenário das prisões brasileiras, com a superlotação e condições insalubres, caminham em direção contrária à LEI nº 8080 e também contra a própria Lei de Execução Penal (LEP), que assegura atendimento médico, farmacêutico e odontológico às pessoas presas. A mesa-redonda ainda abordou outros tipos de distúrbios, como os problemas psicológicos de homens e mulheres em privação de liberdade. E ainda, o grande problema de dependência química que assola potencialmente grande parte das pessoas presas. Para falar sobre o tema recebemos como convidados Luiz Felipe Viana, mestre em psicologia e psicólogo da APAC de Santa Luzia, José Gabriel Knüppel, médico especialista em medicina do trabalho e Marilza Longatti, enfermeira da APAC Masculina de São João del-Rei. 

Ao todo, 300 pessoas participaram das mesas-redondas. Os debates e a exposição foram encerradas no dia 27 de maio de 2018. Todas as fotografias e gravações das mesas-redondas estão disponíveis na fanpage da unidade são-joanense:
https://www.facebook.com/pg/fanpageapacsjdr/photos/?tab=album&album_id=13119666222
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