Saímos de Itaúna segunda feira, 07 de Junho às 06:00 horas da manhã, rumo ao Vale do Jequitinhonha. Nossa primeira parada: Araçuaí. Depois de percorrermos uma média de 700 quilômetros entre os quais uma parte estrada de terra, chegamos ao nosso destino.
A APAC de Araçuaí foi fundada juridicamente há uns dois anos e neste período, liderada pelo Juiz de Direito Dr. Walter, pelo Promotor Dr. Leonardo e pelo Presidente da entidade Sr. Roberto. De lá pra cá, cuidaram de motivar a Sociedade Civil organizada acerca da necessidade de estruturar uma APAC na Comarca, de modo a desafogar o Sistema Prisional e aplicar uma Metodologia que propicie a recuperação dos detentos, já que no Presídio local se encontram uma média de 200 sentenciados num espaço destinado para 60.
Na oportunidade, nos reunimos com as autoridades, membros de Diretoria da APAC e colaboradores. Fizemos uma exposição sobre a realidade atual das APACs e orientamos sobre os próximos passos a serem dados pela equipe. Visitamos o Presídio e conhecemos o terreno já adquirido pela APAC, onde, com a força de Deus será construído o futuro Centro de Reintegração Social para 120 recuperandos.
Certamente, para que esse sonho se torne realidade, necessário se faz a ajuda do Governo de Minas com a liberação de verbas para tal construção, sobretudo por tratar-se de uma região pobre e fraca de recursos próprios que possibilite tal empreendimento.
De tudo o que vimos, ouvimos e sentimos, estamos certos de que num futuro, não muito distante, teremos em Araçuaí uma APAC forte que servirá de referência na aplicação da Metodologia para todo o Vale do Jequitinhonha.
Na tarde do dia seguinte (08/06), terça-feira – 14:00 horas – partimos em direção a Pedra Azul à 170 Km de Araçuaí. O objetivo principal da visita era vistoriar as obras de reforma e adaptação de um antigo mercado que foi doado à APAC pela Prefeitura local.
Incrível verificar o que o homem é capaz de fazer em pouco tempo quando motivado por Deus. Com verbas de Penas Pecuniárias, repassadas pela Justiça, contando com a mão de obra de 10 recuperandos do regime semi-aberto e liderados pelo Juiz Dr. Hélio Walter de Araújo Jr. e pelo grande companheiro de ideal Sr. Ari de Jesus, paredes foram levantadas e pintadas, corredores foram feitos… tudo com um grande zelo e capricho de modo a permitir que os recuperandos daquela Comarca passem a cumprir suas penas em um local digno e decente e uma vez restaurados, voltarem para o seio da sociedade.
Entretanto, o que mais nos chamou atenção foi a alegria estampada no semblante dos recuperandos, o brilho da esperança em seus olhos que rezam juntos em uma pequena capela improvisada no local da obra antes de iniciarem a jornada de trabalho. A grande maioria destes recuperandos nunca tinha, sequer segurado uma colher de pedreiro e agora se sentem úteis, capazes e profissionais.
A expectativa é que a partir de Fevereiro/2011 as obras estejam concluídas, e assim a APAC de Pedra Azul possa irradiar e anunciar para toda a região sofrida do Jequitinhonha que, quando as pessoas de bem se unem em torno de um projeto, a vida floresce e a esperança renasce nos corações.
Cansados, fomos dormir na casa das Irmãs da Ressurreição. A propósito, não poderiam ter escolhido nome melhor para definir o trabalho que aquelas mulheres de Deus fazem junto aos mais pobres – crianças, jovens, doentes… e agora, os presos.
Na madrugada de quarta-feira dia 09 às 04:15 da manhã, levantamos e tomamos um breve café que já tinha sido cuidadosamente preparado pela Irmã Idelni Bernardes – que aliás, conseguiu levantar antes de nós. Em seguida pegamos a BR 116 rumo a Teófilo Otoni. Foi uma viagem longa e sofrida. Como a BR 116 está em reforma, tivemos que parar inúmeras vezes. Em algumas paradas ficamos por mais de 40 minutos.
Chegamos a Teófilo Otoni por volta das 11:00 horas. Tivemos dificuldade de contato porque o celular ficou mudo – motivo: falta de pagamento.
Chegando na APAC tive uma longa conversa com o Presidente da Entidade Sr. Roberto, amigo e companheiro de longa data. O prédio, pequeno, com simples instalações foi cedido pela prefeitura local. Mantém 30 vagas para semiaberto, mas no momento apenas 8 estão ocupadas. A APAC não mantém convênio de custeio com o Estado, sendo a manutenção feita com a ajuda da comunidade e verbas de penas pecuniárias. Com apenas um funcionário (plantonista), o Presidente revesa com o mesmo os turnos de plantão – de Segunda a Domingo, dia e noite. Poucos voluntários. Contudo, com muito esforço e sacrifício, a APAC conseguiu receber a doação de dois terrenos, um mais central e outro mais na periferia da cidade.
Avaliar a situação, motivar a equipe e vislumbrar novos horizontes foi o objetivo da visita. Após o almoço com os recuperandos, nos dirigimos ao Fórum onde fomos muito bem acolhidos pelo Juiz Dr. Alair Soares de Mendonça e pela Promotora Dra. Nelma Matos Silva Guimarães, aliás, grande incentivadora do Projeto APAC.
Em reunião ficou acertado que:
1 – O Juiz irá providenciar a transferência de recuperandos para a imediata ocupação das vagas na APAC;
2 – Ocupadas as vagas, a APAC irá propor à SEDS a reativação do convênio de custeio;
3 – Será realizada no segundo semestre/2.010 uma audiência pública e um seminário de estudos do Método para voluntários;
4 – A APAC irá vender um dos terrenos para o início imediato das obras de construção do CRSocial;
5 – O Juiz irá autorizar os recuperandos da APAC a trabalharem durante o dia nas obras de construção do CRSocial;
6 – Será realizada uma eleição em Julho/2.010 para composição da nova Diretoria da APAC;
7 – Ocupadas as vagas na APAC, será realizado um curso do Método para os recuperandos.
Assim que terminou a reunião, viajamos com destino a Governador Valadares onde chegamos às 17:00 horas.
Acolhidos pelo Presidente da Entidade, Sr. Edgar, por funcionários e pelos companheiros de ideal cristão Sr. Conserva, Prof. Luizinho e sua esposa, conhecemos as instalações da segunda APAC feminina do Estado de Minas Gerais, resultado de uma longa história de lutas, sacrifícios, renúncias e muita entrega pessoal.
Em um antigo prédio abandonado, que outrora fora usado para acolhida de menores infratores, a equipe da APAC realizou um grande milagre. Tudo muito simples, mas feito com grande zelo e esmero. Todas as coisas tocaram minha sensibilidade, mas meu coração ficou profundamente atraído pelo Setor de Saúde, onde além de ótimas instalações, as recuperandas contam com o atendimento de 3 dentistas, médico clínico, pediatra, neurologista, psicólogo e psiquiatra; todos voluntários.
Depois me apaixonei pela capelinha; decorada com extrema arte e bom gosto, e por fim, como não podia deixar de ser, pelas recuperandas. Embora privadas de sua liberdade, com grande alegria e entusiasmo mostraram cada “pedacinho” e detalhes da APAC. Entoaram hinos de louvor e fizeram uma belíssima apresentação de dança, em tudo, demonstrando a verdade das palavras que diz: “quando se tem jardins por dentro, se planta jardins por fora e caminha por eles”.
Vencida esta primeira etapa, a luta agora a ser travada e que já começou, pela APAC de Governador Valadares, é a construção do CRSocial masculino. Pelo que pudemos ver e sentir, não falta ânimo, força e entusiasmo para isto.
10 de Junho, quinta-feira – São 05:30 da manhã, não me lembro a que horas fomos dormir ontem a noite. Só o que sei é que o corpo já manifesta sinais de cansaço.
De volta à estrada, partimos em direção à cidade de Rio Piracicaba. Pensei que iríamos nos reunir com membros da Diretoria e que iríamos conhecer o terreno onde seria construída a APAC. Ledo engano. Para nossa surpresa, havia um grande grupo de voluntários, liderados pelo Juiz Dr. Afrânio.
Traçamos juntos o planejamento das novas ações e passos a serem dados uma vez que a previsão de conclusão das obras está marcada para Novembro. Isto mesmo. Ao visitar o canteiro de obras, nos deparamos com uma grande equipe de trabalho da empreiteira que ganhou a licitação. As obras a todo vapor!
Foi bonito ver e nos emocionou profundamente observar o empenho, a dedicação e a alegria de todos. Rio Piracicaba irá acolher a terceira APAC feminina do Estado, revelando assim a misericórdia de Deus para com suas filhas que se encontram atrás das grades.
De Rio Piracicaba viajamos para Caeté onde nos deparamos com outra surpresa. Visitamos uma fazenda – com antigos galpões abandonados cedida pela Prefeitura para ali funcionar o Projeto Curar- administrado pelo Conselho da comunidade. O espaço é belíssimo e poderia seguramente acolher uma APAC.
Logisticamente Caeté está muito próxima da região Metropolitana de Belo Horizonte e poderia servir como uma bela amostra do Método para outras Comarcas e regiões do País. De lá partimos de volta à Itaúna.
Vale do Jequitinhonha, Vale do Mucuri e Vale do Aço. Em 4 dias de viagens, 6 cidades e mais de 2.000 km percorridos. Rodovias, estrada de terra, frio, calor, neblina… Na bagagem de volta, a Esperança; e no coração a sensação de nossa pequenez diante de um projeto gigante e ousado:
“Meu Deus! Teu mar é tão grande e o meu barco tão pequeno!”
Itaúna, 11 Junho de 2010.
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