O APAC`s em Notícia deste mês de Março traz entrevista exclusiva com Dom Dimas Lara Barbosa, Secretário Geral da CNBB que fala um pouco sobre a Campanha da Fraternidade deste ano com o Tema: “Fraternidade e Segurança Pública” e o lema: “A Paz é fruto da Justiça”.
Conhecedor desta experiência desde seu nascedouro em São José dos Campos/SP, nos fala também da APAC contexto da segurança pública e da Campanha da Fraternidade.

 

Apac`s em Notícia: O que motivou o tema da Campanha da Fraternidade deste ano?

Dom Dimas Lara Barbosa: A Campanha da Fraternidade, normalmente é escolhida a partir de uma mobilização das próprias bases pastorais da igreja. São aqueles que estão ali com a mão na massa que se mobilizam, colhem assinaturas enviam para os regionais e assim é escolhido numa reunião dos representantes dos regionais.
No caso, a pastoral carcerária e a pastoral da criança foram as que se mobilizaram mais em torno do tema de segurança pública. Havia na reunião mais de 20 temais que estavam preiteando uma campanha da fraternidade. A própria juventude que queria um tema próprio quando viu o tema de segurança pública abriu mão da sua solicitação porque a maior parte das vítimas da violência é jovem. O mesmo se diga da pstoral familiar que também achou que o tema contemplava a sua realidade e assim, aos pouco, o tema se impôs.

APAC`s em Notícia: Como vê o trabalho das APAC`s na perspectiva da Campanha da Fraternidade?

Dom Dimas: As APAC`s, pra mim, continuam sendo modelo do que pode vir a ser o nosso sistema penitenciário, porque atualmente todo mundo fala que o sistema precisa ser revisto só que a grande maioria não tem propostas concretas de como deveria ser esta revisão. E as APACs têm ai já algumas décadas de experiência mostrando como, de fato, um processo pode servir para uma verdadeira reinserção do apenado na vida da sociedade, então a APAC foi e continua sendo a bandeira hasteada entre as nações até que os responsáveis acordem que nós temos uma resposta já elaborada na nossa própria casa e que tem produzido muitos frutos ao longo da história.

APAC`s em Notícia: O texto base da CF2009 traz elementos muito ricos sobre o tema. Como o Sr. vê a problemática da segurança pública, no Brasil?

Dom Dimas: O texto base segue o método ver, julgar e agir, consagrado desde os tempos da ação católica. O objetivo é levar às comunidades a refletirem sobre as causas da insegurança nas suas próprias realidades e apontarem pistas para sua superação. O texto não traz receita de bolo, mas sim uma metodologia, para levar as comunidades a pensarem, elas mesmas, na sua realidade concreta, porque uma coisa é a segurança no campo ou a violência no campo, outra coisa é nos grandes centros, e nós temos realidades muito diversificadas no Brasil. De qualquer maneira o que percebemos é que, tanto no campo, quanto na cidade cresce muito o desrespeito para com a pessoa humana e a desvalorização da pessoa humana leva a formas cada vez mais impressionantes de violência. O texto se detêm bastante ao analisar a temática da violência, do medo e inclusive da indústria que daí advém. Tenho sempre insistido, também por ocasião das outras campanhas, que uma tarefa fundamental para a igreja nas próximas décadas é o anúncio de uma visão integral, abrangente de pessoa humana, enquanto ficarmos com esta visão reducionista do ser humano o que vai acontecer é a contínua desvalorização da pessoa e de sua própria dignidade.

APAC`s em Notícia: Uma palavra de orientação para os agentes de pastoral carcerária e para os voluntários das APAC`s referentes aos desafios que é este trabalho e para a pastoral.

Dom Dimas: O trabalho com os apenados não é apenas uma das obras de misericórdia, é uma pastoral de fronteira. Eu tenho sempre insistido que nós não trabalhamos apenas com os apenados, mas também com suas famílias, assim que deve ser uma autêntica pastoral carcerária e também com os próprios agentes (de segurança) penitenciária e as próprias polícias, as autoridades governamentais, porque, na maioria das vezes é justamente a pastoral carcerária que faz o diálogo, por exemplo, com as varas de execução e também com as secretarias de administração penitenciárias. Neste sentido, nosso trabalho é extremamente abrangente, por isto mesmo desafiadora.
Todo mundo que trabalha na área sabe que não está trabalhando com anjinhos, mas sabe também que está trabalhando com seres humanos para os quais, ou pelos quais, o próprio Cristo deu a vida, então, são irmãos nossos, tem também a sua dignidade. Não importa o que fizeram no passado, importa é o presente e, sobretudo o futuro que lhes resta na medida em que eles têm a chance, o privilégio, a oportunidade de conhecer o Evangelho e a partir dele terem suas vidas transformadas. No mais, na pastoral carcerária somos instrumentos para que isto possa acontecer.

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