O projeto Novos Rumos na Execução Penal/RN promoveu o I Seminário para Formação de Educadores no Método APAC, nos dias 25 a 27 na cidade de Macau. O seminário, que ocorreu no Auditório do SESI e foi ministrado pelo advogado e teólogo Valdeci Antônio Ferreira, considerado hoje a maior autoridade no assunto no Brasil e também
é presidente executivo da Fraternidade Brasileira de Assistência aos condenados-FBAC, que é filiada a Prison Fellowship Internacional, órgão internacional ligado ao assunto.
Na noite da quarta-feira, 26 de Maio, os 150 voluntários que irão trabalhar como educadores sociais do método APAC em Macau/RN assistiram a palestra de abertura do I Seminário de Formação de Educadores Sociais, proferida pelo advogado e teólogo mineiro Valdeci Antônio Ferreira, que tem 27 anos de experiência no método e é presidente da Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados-FBAC.
Valdeci Ferreira se mostrou surpreso e parabenizou a população de Macau pela participação no evento, fato que, segundo ele, renova sua esperança e sua alegria porque dá a certeza de que nem tudo está perdido. Ele falou de sua trajetória de vida no método APAC, quando mergulhou naquela metodologia aos 21 anos, em Itaúna-MG, época na qual conheceu o trabalho desenvolvido pelo doutor Mário Ottoboni, pioneiro na implantação daquelas associações. Depois viajou o Brasil, indo até São José dos Campos-SP, Contagem-MG, Curitiba-PR.
Depois que assumiu a FBAC, Valdeci disse que passou de dez a doze anos dentro das prisões para vivenciar o ambiente e sentir quais as reais necessidades dos apenados. Isto lhe exigiu muitas renuncias, noites mal dormidas longe da família, fazendo com que ele abrisse mão de muitas coisas, como um bom emprego, bons cursos, concursos e até constituição de uma família, pois, segundo ele, um apóstolo tem que renunciar a tudo em prol de sua causa, de sua paixão.
Assim, Valdeci abraçou sua causa como o próprio Cristo abraçou sua cruz. “Senti que Deus me chamou para esse apostolado. Nesses anos todos fiz muitas descobertas, mas a maior de todas foi a de que de preso agente não entende nada. Mesmo eu tendo passado anos lá. Quem sabe de preso é quem cumpre pena”, relatou o palestrante.
Para Valdeci, quem conhece o problema é quem está preso, quem perdeu sua juventude em uma prisão e viu a vida “gritando” lá fora, sentindo saudade de sua família. Por isso pensa que quem vai dar a solução para que o método dê certo serão os próprios presos. Segundo o teólogo, o mundo convive com um dilema: os altos custos para a construção de presídios e manutenção de presos lá, isso acompanhado de altos índices de retorno ao crime e crescimento da violência.
Modelos propostos para tratar o problema do sistema carcerário
Por isso, quando se trata de preso o país inteiro está no terceiro mundo e se existisse o quinto o Brasil também estaria lá, pois o problema do preso cresce em altos índices no país. Como exemplo, em Minas Gerais este índice cresce a 10%. Ele contou que visitou os sistemas carcerários de vários países, desde os que tem boas condições até os mais precários. Em todos eles os índices de reincidência são altos. Nos países mais desenvolvidos, decidiram proporcionar aos presos inúmeras regalias, como banho de sol, prática de esporte, estudo e trabalho. Resultado: os índices de reincidência foram de 60 a 65%. Chegou-se a conclusão de que não era só dando bom trabalho que ele não voltaria ao crime.
Então pensou-se no oposto: tratar o preso como lixo, sem as mínimas condições de alimentação e higiene. Assim, Valdeci visitou prisões em países como Moçambique, onde viu presos doentes, vivendo sem energia elétrica, água potável, comida racionada, etc, ou seja, presos tratados como animais para ver se, assim, pensariam duas vezes antes de cometerem algo para voltarem para lá. Resultado: a reincidência alcançou índices de 80 a 85%.
Outros creditavam a recuperação dos presos só à religião. Descobriu-se que religião sozinha não resolve, pois sob o manto da religião o preso se esconde para sobreviver dentro do presídio. Para o teólogo, a religião é importante, mas não resolve sozinha.
Outras soluções foram propostas ao longo dos anos, como colocar os presos para trabalhar forçosamente. Criaram-se assim as prisões privadas, como uma em Hong Kong visitada por Valdeci, na qual os presos trabalhavam 16 horas por dia. Também não resolveu o problema. Pensou-se então em endurecer a pena. Foi estipulada então os Presídios de Segurança Máxima. Outra tentativa fracassada.
A conclusão
A conclusão a que se chega, segundo o teólogo, é de que o sistema está falido para todos os que acreditam na recuperação dos presos. Um dos motivos apontados pelo especialista é o da chamada “Indústria do Preso”. De acordo com Valdeci, preso “dá dinheiro” para algumas pessoas (fornecimento de comida, colchões queimados em rebeliões, construção de novos presídios e cadeias públicas). Exemplo disso é o crescimento a 10% da população carcerária no Estado de Minas Gerais, enquanto o crescimento populacional é de pouco mais de 6%, o que ele considera uma situação sem saída. Para ele, a APAC não é a solução, mas é o melhor caminho.
Fonte: TJRN
27/05/2010 – “O preso é uma chaga social, vítima da falta de políticas públicas”
O advogado e teólogo mineiro Valdeci Antônio Ferreira criticou a situação do preso no Brasil e no mundo e fez uma avaliação do método apaqueano em funcionamento há alguns anos no país, durante palestra de abertura do I Seminário de Formação de Educadores Sociais no método APAC, na noite de terça-feira, 25, na cidade de Macau.
Situação do preso
Valdeci Ferreira contou o que percebeu nos presídios pelos quais passou como voluntário. Lá, o preso vale o que ele tem. Ou seja, se ele tem um carro, ele vale um carro. Se ele tem uma casa, ele vale uma casa. Se ele não tem nada, ele não vale nada. De tudo isso, ele constatou que o preso é um problema social e o voluntário deve ter noção ampla desse problema.
“O preso é uma chaga social. É certo que muitas vezes ele é vítima da desestrutura familiar, mas ele é muito mais vítima da falta de políticas públicas”, denunciou dizendo que tal afirmação pode ser constatada em uma pesquisa realizada recentemente que descobriu que 75% dos presos são analfabetos ou semi-analfabetos.
Portanto, diz o teólogo, para a tal industria, quanto menos se visitar o preso, melhor. Isto se configura uma caixa-preta, para não se ver o que se faz com o preso lá dentro. O melhor para ela é não tocar nessa ferida. Segundo ele, a sociedade, por sua vez, durante anos varreu o lixo incômodo para debaixo do tapete. Mal sabe ela que esse homem vai voltar e pior. É uma visão míope. “Prisão deve deixar de ser vista como espaço de vingança e sim como espaço de redenção para aqueles que cumprem penas”, alertou.
Avaliação do método
De acordo com o especialista, a APAC não é a solução e modelo para o problema. Até porque tem problemas diários. Ele disse para os voluntários de Macau que eles estão na fase fácil, que é a de estruturação física (instalação em um prédio com equipamentos necessários). O difícil, para ele, é tocar e transformar o coração de um preso. Para isso, a comunidade deve estar unida. “A APAC não é um mar de rosas. Tem momentos de dificuldades. Porém, devemos perseverar pois é uma obra que saiu do coração de Deus”, falou entusiasmado.
“Hoje a preocupação é com os presos do mundo inteiro, porque enquanto tiver alguém sofrendo atrás das grades, isso é nossa responsabilidade. A vida é muito efêmera. Quando vemos muitas pessoas sofrendo atrás das grades ficamos com a sensação de impotência. Porém, devemos ter em mente que uma vida é suficiente para fazer o bem para as pessoas”, concluiu em meio aos aplausos da plateia.
26/05/2010 – Autoridades presentes na abertura do I Seminário para Educadores no método APAC testemunham suas experiências
O Seminário teve início na noite do dia 25 com uma palestra de abertura proferida pelo mineiro Valdeci Ferreira, que tem 27 anos de experiência na área prisional. Ele elogiou a participação da população (o auditório estava lotado e a coordenação do evento contabilizou 150 inscrições para participação no seminário, todos voluntariados). O grupo Estrelas da Terra fez uma apresentação cultural para os presentes no evento.
O prefeito de Macau, Flávio Veras, se disse feliz com o evento e falou que a participação de todos é uma demonstração de que Macau está entendendo a importância de uma APAC na cidade. Ele lembrou que a prefeitura se colocou como parceiro desde o início de implantação do APAC na cidade, que para ele é tocada por pessoas responsáveis que querem fazer o melhor. O prefeito ressaltou que não será tarefa fácil e que toda a população deve participar, pois o método promove uma pena mais transformadora, onde o apenado sai uma nova pessoa, o que beneficia toda a sociedade.
A promotora Uliana Paiva, que é presidente do Conselho Deliberativo da APAC, falou da sua felicidade em ver acontecer o I seminário que marca a implantação da filosofia da APAC. Ela destacou a participação de dois apenados de Minas Gerais em Macau para passar toda a sua experiência naquela metodologia. “O maior fator para a escolha de Macau foi o humano. O povo de Macau foi escolhido porque é participativo e acolhedor. Acreditar na APAC é acreditar na capacidade de transformação humana”, ressaltou.
O desembargador Saraiva Sobrinho, que é presidente do Projeto Novos Rumos e que representou o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Rafael Godeiro, destacou a participação do juiz Marcus Vinícius na implantação da APAC em Macau, assim como destacou o trabalho da promotora Uliana Paiva. O desembargador ressaltou o trabalho de Valdeci Ferreira, que proferiu ministrou o seminário gratuitamente. Segundo o desembargador, ele uma pessoa muito simples mas que detém um grande conhecimento e vivencia em lançamentos e gestão de APACs por todo Brasil e até no exterior.
Ao falar sobre a APAC, o desembargador Saraiva disse que naquela associação, o amor é gratuito, não é condicional. E o amor que a APAC prega é constante. “Sem o amor o método não cresce e não funciona . A APAC é a redenção da Execução Penal no Brasil, pois valoriza o homem”, falou entusiasmado.
O coordenador do Projeto Novos Rumos, o juiz Gustavo Marinho fez a apresentação do palestrante para o público. Segundo o juiz, a cidade de Macau tem se mostrado totalmente engajada na APAC e disse que todos iriam ganhar com a palestra de Valdeci Ferreira, anunciada como uma experiência enriquecedora.
O evento contou ainda com a participação da procuradora Valdira Câmara Torres Pinheiro Costa, representando o Ministério Público do RN.
Comments are closed